Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
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6 de fevereiro de 2010
2 de fevereiro de 2010
Os demônios - Dostoievski
"Quando jovem fui testemunha de um caso característico. Certa vez, no corredor de um teatro, um homem se aproximou rapidamente de outro e deu-lhe uma sonora bofetada diante de todo o público. Ao perceber no ato que a pessoa atingida não era absolutamente aquela a que se destinava a sua bofetada, mas outra bem diferente, apenas um pouco parecida, ele, com raiva e apressado, como homem que não tinha condição de perder seu tempo de ouro, pronunciou tal qual o senhor acabou de pronunciar, excelência: 'Eu me enganei... desculpe, foi um mal entendido'. E quando o ofendido, apesar de tudo, continuou ofendido e gritou, o outro lhe observou com extraordinário enfado: 'Mas estou lhe dizendo que foi um mal-entendido, por que ainda está gritando?'"
30 de dezembro de 2009
Felicidade Conjugal - Tolstói
"Não respondi nada e fiquei fitando-o involuntariamente nos olhos. De repente, aconteceu-me algo estranho; em primeiro lugar, deixei de ver o que me cercava, depois o seu rosto desapareceu diante de mim, apenas os seus olhos, parecia, brilhavam bem em frente dos meus, em seguida tive a impessão de que esses olhos estavam dentro de mim, tudo se turvou, não vi mais nada, precisei entrecerrar os olhos para me desprender do sentimento de prazer e medo que este olhar suscitava em mim..."
(...)
"Mas, no mesmo instante, o coração de repente bateu-me mais forte, a mão tremeu e apertou a sua, fiquei com calor, os olhos procuravam na penumbra o seu olhar, e eu senti de repente que não o temia, que esse medo era amor, um amor novo, ainda mais forte e carinhoso que o anterior. Senti que lhe pertencia toda e que era feliz com o poderio dele sobre mim."
(...)
"Mas, no mesmo instante, o coração de repente bateu-me mais forte, a mão tremeu e apertou a sua, fiquei com calor, os olhos procuravam na penumbra o seu olhar, e eu senti de repente que não o temia, que esse medo era amor, um amor novo, ainda mais forte e carinhoso que o anterior. Senti que lhe pertencia toda e que era feliz com o poderio dele sobre mim."
26 de dezembro de 2009
Resnais e Dostoievski
Tinha planos absolutamente apropriados para a minha idade para esta tarde de sábado: churrasco, amigos, piscina e as demais coisas anexas a isso. Porém, como acontece quase todas as vezes, acabei trocando tudo isso por... cinema. Eu sei, eu sei, eu havia dito que iria, e só publico isso porque sei que nenhum dos frequentadores daquele churrasco leria meu blog. Tive de anunciar uma gripe fortíssima para poder escapar razoavelmente ilesa.
Acontece que havia estreiado o filme do Resnais, tente me entender, era irresistível. E não me arrependo! Erva Daninha é um filmão, quando dava por mim, estava tensa, agarrada no braço da cadeira. Às vezes, durante uma cena, me dava conta de como é agradável a situação de estar só no cinema, vendo um filme daqueles, fresquinho, que quase ninguém viu ainda, e feliz, com um espírito de belle époque, eu suspirava em puro êxtase e quando me dava conta, havia perdido uns segundos da história, e irritada com minha distração, perdia mais alguns segundos a me censurar, mas logo voltava a prestar atenção.
Agora estou aqui, inerte, sem vontade de me ocupar de nenhuma atividade intelectual para o filme não se esvair do meu estado de espírito, que está bastante afrancesado ultimamente, tanto que acabei por plenejar um cardápio francês para o jantar de ano novo. Todos em casa reclamaram pelo fato de eu estar tão tomada de encantos por estes imperialistas xenófobos... mas sei que eles só falam isso porque não acabaram de assistir o filme do Resnais!
"Não há solo, não há povo, a nacionalidade é apenas um determinado sistema de impostos, a alma, uma tábua rasa, uma cerinha com a qual se pode imediatamente moldar um homem verdadeiro, um homem geral, universal, um homúnculo: basta para isto aplicar os frutos da civilização europeia e ler dois ou três livros". (Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão - Dostoievski)
Ah, Dostoievski, não me condene! Poxa vida, me sinto medíocre...
Acontece que havia estreiado o filme do Resnais, tente me entender, era irresistível. E não me arrependo! Erva Daninha é um filmão, quando dava por mim, estava tensa, agarrada no braço da cadeira. Às vezes, durante uma cena, me dava conta de como é agradável a situação de estar só no cinema, vendo um filme daqueles, fresquinho, que quase ninguém viu ainda, e feliz, com um espírito de belle époque, eu suspirava em puro êxtase e quando me dava conta, havia perdido uns segundos da história, e irritada com minha distração, perdia mais alguns segundos a me censurar, mas logo voltava a prestar atenção.
Agora estou aqui, inerte, sem vontade de me ocupar de nenhuma atividade intelectual para o filme não se esvair do meu estado de espírito, que está bastante afrancesado ultimamente, tanto que acabei por plenejar um cardápio francês para o jantar de ano novo. Todos em casa reclamaram pelo fato de eu estar tão tomada de encantos por estes imperialistas xenófobos... mas sei que eles só falam isso porque não acabaram de assistir o filme do Resnais!
"Não há solo, não há povo, a nacionalidade é apenas um determinado sistema de impostos, a alma, uma tábua rasa, uma cerinha com a qual se pode imediatamente moldar um homem verdadeiro, um homem geral, universal, um homúnculo: basta para isto aplicar os frutos da civilização europeia e ler dois ou três livros". (Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão - Dostoievski)
Ah, Dostoievski, não me condene! Poxa vida, me sinto medíocre...
17 de dezembro de 2009
Primeiro Amor
Na casa da avó, estávamos as duas no quarto. Ela, sentada na cama, embrulhava os presentes de natal; eu, na poltrona reclinável, me entregava ao Primeiro Amor, de Turgueniev.
"Naquele dia eu me sentia tão alegre e orgulhoso, conservava em meu rosto a sensação dos beijos de Zinaída com tamanha nitidez, relembrava cada palavra sua com tal frêmito e êxtase, acalentava tanto a felicidade inesperada que até cheguei a experimentar medo e a perder a vontade de vê-la, a responsável por aquelas sensações. Parecia-me que não poderia exigir mais nada do destino, que agora deveria 'dar uma boa inspirada, pela última vez, e então morrer'"(...)
Fui interrompida pela voz da avó.
-Beatriz, você se lembra da C.?
-Mãe do M.?
-Ela mesma.
Sim, eu me lembrava: A simpática senhora do apartamento do lado que, quando eu contava 11 anos e morava com a avó, tinha planos de me casar com seu filho M., que na época tinha 8 anos, era pálido, baixo e magrelo.
-Lembro sim.
-Ela se trancou no apartamento, não quer mais ver ninguém.
-Hum?
-É. Quando a gente liga, ela manda dizer que não tá, a gente toca a campainha, ouve movimentação lá dentro, mas ninguém atende a porta. Um dia desses eu bati lá porque precisava entregar um negócio, o M. me atendeu, disse que a mãe dele tava no banho, mas eu bem vi que ela tava no corredor, escondida.
-E o marido?
-Ah, ele sempre foi fechadão, mal-humorado, briguento que só... Também, é judeu.
Fiz silêncio. Tinha recordações de uma C. muito alegre, sorridente, um completo contraste com o marido, que, aliás, era o síndico. E agora, de repente, recolheu-se. Fiquei imaginando como isso seria material para um bom romance. Talvez C. tivesse se dado conta de sua inutilidade como dona de casa e estivesse em crise, ou tivesse um admirador que a perseguisse, ou então o marido a tivesse proibido de sair porque encontrara uma carta anônima dedicada à mulher na gaveta do criado mudo, também pode ser que estivesse com uma doença terrível e tivesse se isolado para pensar, ignorando completamente o social.
-Ela gostava tanto de você - comentou a avó.
-Eu podia tentar ir lá...
-Não adianta... D., que era tão próxima dela, tentou ir lá esses dias, ela não atendeu.
Seria esse o meu futuro? Um casamento sombrio, uma felicidade fingida que desse umas pinceladas alegres na imagem da minha vida conjugal, um filho raquítico, um grande acontecimento (ou não!) e... o isolamento, a depressão, talvez uma morte precoce, suicído ou homicídio por parte do marido cruel ou do filho psicopata... Seriam as relações pura formalidade, algo que cutucasse a liberdade individual aos poucos e que então de repente, fizesse as pessoas explodirem e lhes deixasse a escolha: fugir ou isolar-se...?
Espantei meus devaneios com um suspiro. Calma, Beatriz... Volte sua atenção para o Primeiro Amor por enquanto, que é tudo o que tem em mãos.
"Naquele dia eu me sentia tão alegre e orgulhoso, conservava em meu rosto a sensação dos beijos de Zinaída com tamanha nitidez, relembrava cada palavra sua com tal frêmito e êxtase, acalentava tanto a felicidade inesperada que até cheguei a experimentar medo e a perder a vontade de vê-la, a responsável por aquelas sensações. Parecia-me que não poderia exigir mais nada do destino, que agora deveria 'dar uma boa inspirada, pela última vez, e então morrer'"(...)
Fui interrompida pela voz da avó.
-Beatriz, você se lembra da C.?
-Mãe do M.?
-Ela mesma.
Sim, eu me lembrava: A simpática senhora do apartamento do lado que, quando eu contava 11 anos e morava com a avó, tinha planos de me casar com seu filho M., que na época tinha 8 anos, era pálido, baixo e magrelo.
-Lembro sim.
-Ela se trancou no apartamento, não quer mais ver ninguém.
-Hum?
-É. Quando a gente liga, ela manda dizer que não tá, a gente toca a campainha, ouve movimentação lá dentro, mas ninguém atende a porta. Um dia desses eu bati lá porque precisava entregar um negócio, o M. me atendeu, disse que a mãe dele tava no banho, mas eu bem vi que ela tava no corredor, escondida.
-E o marido?
-Ah, ele sempre foi fechadão, mal-humorado, briguento que só... Também, é judeu.
Fiz silêncio. Tinha recordações de uma C. muito alegre, sorridente, um completo contraste com o marido, que, aliás, era o síndico. E agora, de repente, recolheu-se. Fiquei imaginando como isso seria material para um bom romance. Talvez C. tivesse se dado conta de sua inutilidade como dona de casa e estivesse em crise, ou tivesse um admirador que a perseguisse, ou então o marido a tivesse proibido de sair porque encontrara uma carta anônima dedicada à mulher na gaveta do criado mudo, também pode ser que estivesse com uma doença terrível e tivesse se isolado para pensar, ignorando completamente o social.
-Ela gostava tanto de você - comentou a avó.
-Eu podia tentar ir lá...
-Não adianta... D., que era tão próxima dela, tentou ir lá esses dias, ela não atendeu.
Seria esse o meu futuro? Um casamento sombrio, uma felicidade fingida que desse umas pinceladas alegres na imagem da minha vida conjugal, um filho raquítico, um grande acontecimento (ou não!) e... o isolamento, a depressão, talvez uma morte precoce, suicído ou homicídio por parte do marido cruel ou do filho psicopata... Seriam as relações pura formalidade, algo que cutucasse a liberdade individual aos poucos e que então de repente, fizesse as pessoas explodirem e lhes deixasse a escolha: fugir ou isolar-se...?
Espantei meus devaneios com um suspiro. Calma, Beatriz... Volte sua atenção para o Primeiro Amor por enquanto, que é tudo o que tem em mãos.
1 de dezembro de 2009
Os sofrimentos do jovem Werther - Goethe
"... não há nada mais volúvel e inconstante do que o meu coração! Meu caro, preciso dizer isso a você, que tantas vezes sofreu vendo-me passar da aflição ao desvario, da doce melancolia à paixão desenfreada? Também, trato o meu coraçãozinho como uma criança doente, permitindo-lhe todas as vontades. Não diga isso a ninguém; muitas pessoas poderiam me levar a mal."
25 de novembro de 2009
literatura húngara
Sábado, sozinha na bioblioteca lotada, após um cochilo sobre um livro marxista, acordei em frente a um estranho, que me olhava sobre o seu livro de capa preta. Levantei, incomodada com o olhar persistente e comecei a circular entre as estantes de romances, atordoada. Quando parei para respirar, olhei pro lado e me vi de frente para uma prateleira onde lia nomes muito estranhos nas lombadas de todos os livros. Literatura húngara. Por que não?
Escolhi dois livros aleatoriamente e passei no balcão para cadastrar. Antes de sair, dei uma espiada no estranho, que agora lia seu livro de capa preta. Ele levantou os olhos do livro e, antes de cruzar novamente o olhar com o seu, virei as costas e apressei o passo para sair da biblioteca.
"Mas assim é o homem. Nosso senso de medida não suporta o imensurável. Após um certo tempo, até o sofrimento se torna hilário. O unhappy end é tão inverossível quanto o happy end. Se o herói da tragédia morre no final do quinto ato, choramos, se dois, ou três ou cinco morrem, choramos aos soluços, mas se o mensageiro, o primeiro e o segundo criados, o contra-regras, o ponto, o cenógrafo e o bombeiro também morrem, disso só podemos rir. Infelizmente tais tragédias ocorrem também na vida. Essas também não merecem crédito. (...) Sim, meus amigos. Tudo tem seu limite. O que é demais, é demais."
Dezsö Kosztolányi - O Tradutor Cleptomaníaco
Escolhi dois livros aleatoriamente e passei no balcão para cadastrar. Antes de sair, dei uma espiada no estranho, que agora lia seu livro de capa preta. Ele levantou os olhos do livro e, antes de cruzar novamente o olhar com o seu, virei as costas e apressei o passo para sair da biblioteca.
"Mas assim é o homem. Nosso senso de medida não suporta o imensurável. Após um certo tempo, até o sofrimento se torna hilário. O unhappy end é tão inverossível quanto o happy end. Se o herói da tragédia morre no final do quinto ato, choramos, se dois, ou três ou cinco morrem, choramos aos soluços, mas se o mensageiro, o primeiro e o segundo criados, o contra-regras, o ponto, o cenógrafo e o bombeiro também morrem, disso só podemos rir. Infelizmente tais tragédias ocorrem também na vida. Essas também não merecem crédito. (...) Sim, meus amigos. Tudo tem seu limite. O que é demais, é demais."
Dezsö Kosztolányi - O Tradutor Cleptomaníaco
3 de novembro de 2009
almas mortas - gógol
"Havia nela qualquer coisa de impetuoso. Quando falava, parecia que tudo nela queria expressar seu pensamento - as feições, as inflexões da voz, os gestos; as próprias dobras do seu vestido pareciam querer exprimir a mesma coisa, e ela mesma parecia que a qualquer momento levantaria vôo para seguir o próprio pensamento. Não havia nela nada de oculto. Ela não teria receio de revelar suas idéias diante de ninguém, e poder algum poderia forçá-la a calar-se quando tinha vontade de falar".
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