26 de dezembro de 2009

Resnais e Dostoievski

Tinha planos absolutamente apropriados para a minha idade para esta tarde de sábado: churrasco, amigos, piscina e as demais coisas anexas a isso. Porém, como acontece quase todas as vezes, acabei trocando tudo isso por... cinema. Eu sei, eu sei, eu havia dito que iria, e só publico isso porque sei que nenhum dos frequentadores daquele churrasco leria meu blog. Tive de anunciar uma gripe fortíssima para poder escapar razoavelmente ilesa.

Acontece que havia estreiado o filme do Resnais, tente me entender, era irresistível. E não me arrependo! Erva Daninha é um filmão, quando dava por mim, estava tensa, agarrada no braço da cadeira. Às vezes, durante uma cena, me dava conta de como é agradável a situação de estar só no cinema, vendo um filme daqueles, fresquinho, que quase ninguém viu ainda, e feliz, com um espírito de belle époque, eu suspirava em puro êxtase e quando me dava conta, havia perdido uns segundos da história, e irritada com minha distração, perdia mais alguns segundos a me censurar, mas logo voltava a prestar atenção.

Agora estou aqui, inerte, sem vontade de me ocupar de nenhuma atividade intelectual para o filme não se esvair do meu estado de espírito, que está bastante afrancesado ultimamente, tanto que acabei por plenejar um cardápio francês para o jantar de ano novo. Todos em casa reclamaram pelo fato de eu estar tão tomada de encantos por estes imperialistas xenófobos... mas sei que eles só falam isso porque não acabaram de assistir o filme do Resnais!

"Não há solo, não há povo, a nacionalidade é apenas um determinado sistema de impostos, a alma, uma tábua rasa, uma cerinha com a qual se pode imediatamente moldar um homem verdadeiro, um homem geral, universal, um homúnculo: basta para isto aplicar os frutos da civilização europeia e ler dois ou três livros". (Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão - Dostoievski)

Ah, Dostoievski, não me condene! Poxa vida, me sinto medíocre...

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