Sábado, sozinha na bioblioteca lotada, após um cochilo sobre um livro marxista, acordei em frente a um estranho, que me olhava sobre o seu livro de capa preta. Levantei, incomodada com o olhar persistente e comecei a circular entre as estantes de romances, atordoada. Quando parei para respirar, olhei pro lado e me vi de frente para uma prateleira onde lia nomes muito estranhos nas lombadas de todos os livros. Literatura húngara. Por que não?
Escolhi dois livros aleatoriamente e passei no balcão para cadastrar. Antes de sair, dei uma espiada no estranho, que agora lia seu livro de capa preta. Ele levantou os olhos do livro e, antes de cruzar novamente o olhar com o seu, virei as costas e apressei o passo para sair da biblioteca.
"Mas assim é o homem. Nosso senso de medida não suporta o imensurável. Após um certo tempo, até o sofrimento se torna hilário. O unhappy end é tão inverossível quanto o happy end. Se o herói da tragédia morre no final do quinto ato, choramos, se dois, ou três ou cinco morrem, choramos aos soluços, mas se o mensageiro, o primeiro e o segundo criados, o contra-regras, o ponto, o cenógrafo e o bombeiro também morrem, disso só podemos rir. Infelizmente tais tragédias ocorrem também na vida. Essas também não merecem crédito. (...) Sim, meus amigos. Tudo tem seu limite. O que é demais, é demais."
Dezsö Kosztolányi - O Tradutor Cleptomaníaco
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