15 de fevereiro de 2013

o inferno

Sem luz no apartamento, sem velas, nem lanternas, o misterioso trânsito às 23:00 na avenida quatro andares abaixo era o que trazia certa profusão de luzes esquizofrênicas en passant. Na penumbra que se formara, atravessada por tais feixes de luz medonhos, eu me movia devagar, quase flutuando. Consegui até esquentar sopa e jantar no escuro. Sozinha (no coração - aço). Estava exausta, há dias mal dormia. Ah, o carnaval!, dirão. É, o carnaval. Mas podia perfeitamente não ter sido carnaval. Ou não. Tinha mais certeza do que nunca de que precisava descansar, o que me parecia finalmente possível. O peito apertado, ou talvez infinitamente leve, aquela aflição de quem procura sabe-se-lá-o-que com a absoluta certeza de que jamais encontrará. Coisa que sempre me impressionou: como ousa o telefone funcionar quando falta energia? Ele tocou, majestosamente, enquanto eu mantinha ao meu lado, cuidadosa e obcessivamente, o celular já quase sem bateria. -Donzela! Ah. Consegui desligar o telefone depois de uns minutos e uns grunhidos, desconectei o fio que o ligava à parede. Feito um fantasma, andei pela casa, esperando, procurando, de olho no celular, o coração (aço) atento, sonâmbulo. Cai na cama do quarto que não era o meu e lá fiquei, enterrada no lençol, no escuro, com a subta consciência de que, mais alguns dias e, sem mais poder percebê-lo, eu me poderia tornar completamente louca.

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