15 de fevereiro de 2013

G.H. traz em uma bandejinha de vidro duas canecas de chá quente. Está abafado e eu encaro a mala aberta em cima da cama, ainda vazia. Ele deposita a bandeja de chá sobre a escrivaninha com um suspiro e posso ouvi-lo sentar-se na cadeira. Sinto-o me encarando pelas costas, com desapontamento.

-Qual é a dessa vez? Por que está a todo esse tempo encarando essa mala vazia?

Volto-me para olhá-lo, sem responder, com um meio sorriso no rosto. Sento na beirada da cama, respeitando o espaço da mala.

-Sabe... Não tenho a menor ideia. Não consigo pensar nas próximas duas horas. Acho que vou morrer.

-Ah, dindi... - cantarola G.H.

-Não consigo, não consigo, não consigo! Mas que diabo!

Ele se levanta, abre uma gaveta do guarda-roupa, atira quatro calcinhas da mesma cor dentro da mala, depois o biquini, um sutiã de cor diversa à das calcinhas, uma toalhinha. Eu o observo, perplexa, enquanto desvio das coisas para que elas caiam devidamente no lugar em que devem, embora não esteja muito certa de que ele não as queira atirar em cima de mim. Ele para um pouco e me olha com deboche.

-Quer mesmo que eu continue?

-Não vou impedir.

Ele se senta ao meu lado e me faz carinho nos cabelos. Eu desfaleço, desabo, estraçalho toda minha firmeza e auto-afirmação diante do que eu considerava ser o mundo no colo de G.H.

-Viajar, G.H.! "Para que e para onde, se a gente é sempre mais infeliz na volta?"

-"Infeliz e vazio, situações e lugares desaparecidos no ralo..."

Um minuto de silêncio fantasmático no colo de G.H. e reergo-me.

-Não vou. Mesmo. 


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