20 de abril de 2011

"-Comandante, conte-me tudo o que sabe sobre esta tragédia"

F.W.,
A minha cabeça está morando numa lata de sardinhas com sardinhas.
Se você quer saber o que me deixou abalada sexta, vou te contar, talvez escrevendo seja mais entendível o que eu quero passar.
Imagine que um dia, procurando qualquer coisa em uma gaveta, você acha uma meia velha onde se lê, escrito em canetinha preta: Para F.W, ass Fred. Você primeiro dá um sorrisinho pelo ridículo da situação, depois se esforça para lembrar o contexto em que aquilo deve ter acontecido... quem era Fred mesmo? Teria conhecido em alguma viagem? Ou fora alguem que estudara com você há muito tempo? E por que diabos esse Fred te teria dado uma meia assinada, ou, pior ainda, assinado uma meia velha sua? Qual seria a curiosa história daquela meia? Você vasculha lá dentro enquanto vai levando a vida, procurando essas respostas na memória, depois nas coisas do dia a dia (nao é possível, certamente algo irá te remeter ao Fred e à história da meia). Perguntar aos amigos não parece bom... essa história tem cara de ser muito íntima, muito sua... e do Fred... e da meia. E no que você anda pensando enquanto está no trabalho, ou mesmo comigo, ou no analista? Você está preocupado, tentando recuperar qualquer coisa sua que só pode estar dentro de você mesmo, que evidenciou-se de alguma forma no achado da meia e te é inatingível... te é inatingível embora seja seu. E lá dentro, enquanto você procura suas próprias vivências em meio a outras das quais você tira pó, o corpo vai vivendo e a mente trabalhando pro agora... E depois dessa angústia de se saber um vivedor que não apreende a própria vida, compreendendo que tudo o que você viveu e não guardou simplesmente não existe mais, você só espera que aquele impulso instigado e cheio de vida que foi embora atrás das lembranças, possa reencontrar o caminho de volta e apreender o presente...

Eu e encontrei a meia sexta-feira... mas as lembranças daquela época, o contexto, a história por trás daquilo não estavam aqui dentro. E ali deixei a meia sem seu significado. Sinto que já estou recuperando o caminho de volta.
B.C.

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