Coloquei o novo CD de jazz que havia comprado pelo meu itinerário, abri a porta e gritei pela minha mãe. Ela saiu de seu quarto e veio até o meu, com um olhar desconfiado, pois tratava-se de uma situação excepcional em que ela entrava no meu ambiente como convidada, não como invasora ou coisa do tipo. Postou-se à porta, sem muita coragem de colocar os pés lá dentro.
-Não conhece essa música?
"I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world..."
-Ah! - ela exclamou - Claro... Adoro essa música.
No meio do quarto, eu comecei a dançar sozinha, de olhos fechados, gesticulando os braços devagar e me movendo de um lado para o outro, às vezes dando um giro, como que levada por um par invisível muito pouco habilidoso. A iluminação era pouca, vinha apenas do abajur, eu não tinha o costume de acender a lâmpada do teto. Minha mãe, apoiada à porta, me assistia dançar com os olhos curiosos.
"I hear babies cry, I watch them grow
They'll learn much more, than I'll never know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world"
Ficamos nessa cena até que a música acabasse, "como duas criaturas solitárias e incomunicáveis, feitas cada uma por um deus diferente", até que Mingus iniciasse bruscamente um solo de saxofone na faixa 2 do CD e minha mãe virasse as costas para voltar ao seu quarto.
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