19 de janeiro de 2010

na cama

O telefone tocou a primeira vez, tocou, tocou, tocou. Na cama, eu me sentia inapta a levantar e L.D. apenas se mexia de um lado para o outro. Parou. Consegui retomar o sono, até a segunda vez. Tocou, tocou, vi L.D. levantar, demorou um pouco e voltou para a cama, perguntou se eu estava acordada e eu não respondi, ela pareceu voltar a dormir. Lá fora chovia muito e entrava um ar gelado pelas frestas da janela, puxei o edredon, que cheirava a mofo.

O futuro é bom, Biethka, a frieza vai passar com as coisas boas que estão a caminho, o futuro é bom e cheira a mofo e eu me sinto tomada de sensações sem saber bem como reagir e é isso que chamam frieza. Você é fria, um gelo, não sente nadinha e faz o resto sofrer, indiferente, tranquila, queria dizer que sinto tudo, só não sei reagir, mas por que é que acordei pensando nisso? Nesse instante me vem um fragmento do sonho à memória e parece tudo explicado.

Por que teria sonhado isso? O sonho reflete os desejos do dia anterior, mas que desejo é esse que em vida eu neguei e em sonho me pareceu absolutamente aceitável? Ah, a psicanálise, um dia serei capaz de explicar todas essas coisas que cheiram a mofo. Vou saber enfim o que fazer com todas as coisas: explicar. Vou sentir e explicar, então darei um fim para todas elas, que não precisarão mais ficar rondando em sonhos, disfarçadas.

O telefone volta a tocar, tocar, tocar... tocar... L.D. não vai levantar, parece. Levanto-me, mas quando cruzo a porta do quarto já não há som nenhum.

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