29 de dezembro de 2009

vida, minha vida

Era cedo, L.S. estava sentada na cama desarrumada e eu procurava um shorts entre as pilhas de coisas espalhadas pelo quarto. Estava resfriada, meu nariz escorria, tinha tontura de abaixar para procurar, estávamos atrasadas e eu não achava o shorts.

-Viver às vezes é tão difícil! - desabafei, olhando para L.S. com olhar suplicante.

Em contrapartida, certa noite, após uma sessão de cinema na qual assistíramos um filme incrível, L.D. e eu resolvemos nos sujeitar a pagar absurdos por um rodízio de sushi. Chegaram à nossa mesa um monte de potinhos com coisas diferentes, muito sashimi, shitake, missushiro, temakis, cerveja. Comi um sushi e olhei para L.D., que no momento esforçava-se para comer um temaki sem perder a classe, enquanto ele se desmanchava por inteiro.

-Viver neste momento me parece tão fácil, não?

Acabei de acordar, eu já teria almoçado há muito tempo se ainda estivesse em aula. Fui dormir tarde porque fiquei assistindo Juventude, do Bergman, depois fiquei sentada no tapete da sala, no escuro, ouvindo a chuva cair lá fora, pensando no que acabara de ver. Intimamente, estava me despedindo. Ocorreram-me dúvidas, meu futuro breve me pareceu imprevisível, me vi então diante dos obstáculos que tentavam interromper essa minha inécia para com todas as coisas. E interrompem brevemente, já que me esforço para me desviar deles antes de me deixar tocar. Mas agora, lá adiante, me aparece um muro onde trombar é inevitável e eu vou deitando no tapete, tentando não dormir, passando horas a contemplar o nada, tentando retardar esse encontro, mas são vãs tentativas. O fim dessa inércia é inevitável. E é isso: viver no momento me parece inevitável.

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