I - O casal da frente
Ele come um toast, apressado, enquanto fala e gesticula. Parece ter muita pressa. A moça tem uma expressão feliz, mexe seu suco com o canudinho enquanto, com o queixo apoiado no punho, oberva seu interlocutor. Ela chegou antes, já comera seu próprio lanche e pedira o dele, que esfriava sobre a mesa à sua espera. Ele chegou, falando, mal a olhou nos olhos e já se sentou, depois ela lhe ofereceu a boca, ele olhou como quem tinha pressa demais para corresponder e, rapidamente, deu-lhe um beijo no canto dos lábios enquanto mantinha os olhos atentos no toast. Voltou a falar, enquanto comia. Agora, cinco minutos depois dele ter chegado, uma senhora já está ocupando a mesa. Os dois saíram enquanto ele ainda mastigava o lanche. Ele não lhe deu a mão, pois estava carregando uma caixa de papelão desmanchada e um guarda-chuva.
II - O senhor do balcão
Ele olhava pro chão até dar de encontro com meus olhos, que o observavam tranquilamente e então se desviaram intimidados, voltando-se para o caderno. Nada de muito diferente para a Avenida Paulista: um senhor de terno, tomando seu café, com a cabeça longe e o olhar no chão. Agora seus olhos preocupados me olham, sinto-os me analisando enquanto escrevo sobre eles. São de uma dureza triste, parecem aprisionados, conformados, porém sonhadores, estão apertados no terno cinza, querem fugir e fitam minha mochila, minhas botas, meus jeans. Fita meu caderno e nem sabe que está olhando para sua imagem distorcida nessas folhas amareladas de papel reciclado. Parece aborrecido, volta a olhar para o chão. Está desolado. Lanço-lhe um olhar benevolente, mas ele não corresponde. Seu café deve ter acabado, agora só há o chão e os sapatos. Imagino-o de sobrecasaca azul e colete amarelo, nesta mesa posição, porém há dois séculos. Vejam se não é o jovem Werther!
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