Eu me lembro de estar na casa de L.D., fazendo filmagens para um trabalho, na companhia dela e de M.M., quando a mãe de L.D., que estava no computador, disse:
-Gente, hoje faz 20 anos que caiu o muro de Berlim.
Fez-se silêncio. Era como se ela tivesse acabado de anunciar que tinham derrubado o muro. Trocaram-se uns olhares perdidos, eu até tentei quebrar o gelo com um "é, eu lembro", mas só a mãe de L.D. riu. Não foi nesta situação, mas eu me lembro de uma fala de L.D., enquanto andávamos na plataforma da estação de metrô em um dia aleatório, era algo assim:
-Bizarro isso. Nossos pais viveram à flor da pele o sonho comunista e a destruição dele, e a gente vive os resquícios desse sonho, nos agarramos a ele com fervor e no fundo, sabemos que ele está obsoleto.
Depois desse dia, nós duas tentamos atualizar o sonho comunista para o presente contexto, mas isso nos pareceu impossível, sentimos algo parecido com o que expressou Tchekhov: "O desejo de servir o bem comum deve ser, de modo incoercível, uma necessidade da alma, a condição para a felicidade pessoal; mas se não é disso que ele decorre, e sim, de considerações teóricas e outras que tais, esse desejo é então outra coisa".
Agora, vagamos por aí de cinema em cinema, escolhendo o mais barato, zombando da classe média way of life, poupando minimanete as aparências e com o sonho de ter de trabalhar o menor tempo possível e passar a maior parte da vida como damas do século XIX.
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