17 de dezembro de 2009

ISSO

Senti uma fisgada. Não é uma boa palavra pra definir o que senti, mas não consegui pensar em nada melhor. Um NEGÓCIO, uma COISA. Argh.

A casa está barulhenta, não consigo pensar sobre ISSO.

Minha mãe remarca a massagem que cancelou hoje para depois de amanhã.

Meu pai pergunta se alguém se impõe ao fato dele ir tomar banho agora.

Meu irmão, que está no computador, às vezes grita, achando que algum deles está falando com ele.

E eu, com o laptop na cozinha, estou em silêncio e sinto algo. Parem todos! Eu quero pensar sobre isso! Dou um gole no meu chá. Minha mãe passa por mim, reclamando do chiado no telefone e meu irmão, à distância, grita, manifestando sua indignação com a mesma causa. Eles vão se unir agora e tentar ligar para a telefônica.

Um pouco de silêncio. Nessa confusão, quase me esqueci do ALGO. Minha mãe passa por mim de novo, pega meu chá por engano, dá dois passos e devolve, o dela estava na sala. Silêncio. Antes de tentar lembrar do algo, minha mãe e meu irmão agora falam sobre o homem que virá pregar um espelho amanhã, ela dá as indicações pois meu irmão é quem estará aqui. Em um segundo, o assunto volta ao telefone e me perguntam qual o número que eu ligo quando dá problema na internet. Não lembro. Me deixem fora disso.

-Beatriz, gostei do chá.

-É pra ligar 10315 - grita meu irmão, de um cômodo distante.

Silêncio.

-REPARO-LINHA-TELEFÔNICA - ouço minha mãe falando com a máquina pelo telefone.

O que devem estar pensando é por que eu não vou para o meu quarto pensar sobre minha fisgada, meu ISSO, essa COISA que... dói! Por isso mesmo, prefiro dar um nome só a tudo isso: angústia. Sei que daqui a pouco todos vão dormir e eu vou passar algumas horas num silêncio sombrio, atormentada, tentando não pensar nisso que eu finjo querer pensar agora, numa insônia infeliz provocada por minha luta para evitar esses pensamentos inevitáveis.

Agora minha mãe aguarda do outro lado da linha. Meu irmão deve estar concentrado, seja lá em que cômodo da casa ele esteja agora. Meu pai ainda deve estar no banho. Chove. ISSO me parece simplesmente impensável nesse silêncio todo.

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