23 de fevereiro de 2013

tranças

Vesti a camisola de algodão cor-de-pele, reta, comprida, com um desenho de flor no peito esquerdo e, inexplicavelmente, me senti a mais moça das moças. Tinha um ar de internato feminino do começo do século passado. Soltei os cabelos e fui ainda tomar chá, sem sono.

Bem me lembro quando a mamãe ganhou tal camisola de uma ex, então atual, namorada de L., filha de árabes comerciantes de lingerie. Ela agradeceu, educadamente, e depois veio me dizer: ela me deu uma camisola de velha. Isso pegou fundo, ela estava fazendo cinquenta e poucos anos.

Sinto-me a mais jovial das criaturas vestindo a camisola. Umas horas antes e estava fazendo tranças nos cabelos das minhas primas pequenas, que se amontoavam à minha volta, na tentativa de entender minha habilidade manual para o penteado... ah, só fui adquiri-la depois das tranças terem perdido aquele encanto que despertam as coisas bonitas que sabem fazer os adultos. O jeito de se embelezar das mulheres... Trancei eu mesma, pela primeira vez, meus cabelos logo depois de ter terminado A Montanha Mágica, num café, em um dia chuvoso. Fechei o livro e, instintivamente, trancei os cabelos. As meninas foram desfilar na sala, de tranças. O rapaz de oito anos não desgrudava os olhos da TV, depois veio sentar no meu colo, contando da viagem para a Disney. Quando passei os braços em volta dele, ele recuou, com uma careta.

A camisola quase não marca o corpo, toca-o com maciez. Moça, moça, uma moça cheia de problemas e expectativas de moça... ansiosa, insone, com taquicardia e um sorriso (um sorriso mau, indiscutivelmente) nos cantos da boca.

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