9 de outubro de 2011

sobre a primavera de 2011

Curioso. É tarde de domingo, o dia está cinza e fresco e certamente todas as pessoas com alguma disposição de espírito ao encantamento e a bem-aventurança estão por aí respirando os primeiros ares da primavera desse ano. Ah, se os meus tempos fossem outros! Certamente teria as mãos dadas a alguém, ou um braço ao meu redor em um passeio por alguma avenida, ou estaria com L.D. numa longa fila para comprar ingressos no cinema (na primavera, especialmente em dias como os de hoje, é permitido ir ao cinema aos domingos, pegar filas e pagar mais caro como todos os outros o fazem e há um prazer todo peculiar em ser como os demais), ou mesmo sozinha em uma varanda de café a trocar olhares e olhar com despretensão a vida estendida como tapete florido.

Mas não! Os tempos são difíceis... É tempo de canecas vazias de chá e café ao lado do laptop, em acúmulo crescente. São os trabalhos, sim, são os trabalhos... mas não apenas. Há qualquer coisa em mim desconfiada da primavera, qualquer coisa que tem certeza que a primavera é um perigo para mim (repito pela milésima vez o começo do poema: quem vai pagar o enterro e as flores...). Não que eu esteja tentando me prender ao mundo, levar a minha rotina rigidamente e tenha medo de sair flutuando... não. Mas a primavera de outros tempos, de mãos dadas, passeios agradáveis e cafés não existe mais no meu íntimo.

Por que razão eu me ocupei tanto tempo em ver primaveras em todos os cantos, a ponto de deixar o seu gosto enjoativo e nauseabundo para mim (mulher de estômago frágil pelos cafés e pastilhas de todo dia)?

Afinal, meu Deus...De onde vem a primavera que não é minha?

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