1 de maio de 2010

divisão notável

Coisa bastante simples, porém notável, vi esta noite, passando de carro por higienópolis, ao lado de meu pai, voltando da casa do avô. Estávamos em silêncio, ouvindo Caetano, e volta e meia um de nós dizia algo que findava em si mesmo, como "esfriou esses dias", ou então algum comentário sobre a obra de Durkheim ou uma pretenção de romance da parte de algum escritor mais ou menos conhecido que alguém leu no jornal. Mas no geral, silêncio. Ele elogiou minha aparência, disse que eu parecia muito descansada e feliz, que da outra vez que me viu, eu lhe causara uma impressão ruim e ele estava preocupado, mas isso foi na mesa do chá, com o avô. A tal cena notável, observada de dentro do carro e nesse contexto foram duas meninas pequenas, não deviam ter mais de oito anos, dividindo um só casaco. Cada uma tinha um braço em uma das mangas e pareciam ter o outro de modo desconfortável, uma o tinha levantado para o alto, e a outra não pude ver como arranjou-se. Mas estavam sorridentes, plenamente satisfeitas no seu desconforto, andavam sozinhas naquela noite, na calçada, agasalhadas do vento. Pensei em comentar com meu pai, quando paramos no semáforo e elas passaram andando ao nosso lado, mas não o fiz. Se o fizesse, não teria diferença alguma.

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