1 de fevereiro de 2010

o que fica

Fica essa impaciência, essa dificuldade em pegar no sono, em se concentrar na leitura, em comer só o necessário. Fica também essa circulação pela casa, sem rumo, pelas ruas molhadas, esquecendo-se o rumo a cada esquina. Fica a lembrança da sensação de ter um rumo. Fica ainda essa despedida subentendida em cada telefonema cotidiano, cada simples boa noite, cada olhar silencioso durante a refeição de sempre, cada vez mais lenta. Ficam os abraços, os desejos de felicidades, os sorrisos pela minha sorte, e nisso tudo, uma agonia, uma acusação de egoísmo, uma pontinha de desagrado, uma preocupação. Por fim, ficam meus romances na estante, estáticos, os lençóis e o tapete do quarto impecavelmente ordenados, o silêncio de uma casa de adultos e o suspiro do encontro com o que já era esperado. Fica a pergunta entranhada em cada beijo de despedida: você volta? E fica a vontade de responder: na verdade, eu queria mesmo é ficar. E disso não fica nada, porque não é dito.

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