20 de fevereiro de 2010

eu, chapéu

Eu queria fazer alguma coisa como sentar num banco e ficar, ou deitar na cama e ficar, ou entrar num café e ficar. Ele, nao. Tinha a impressao de que eu estava em segundo plano ali, algo como um chapéu que se leva por aí consigo, mas com quem nao se quer ficar a sós, a nao ser que deseje um momento solitário para pensar em onde ir jantar mais tarde, ou para sentar e obervar um par de pernas paradas em frente a fonte, ou mesmo para tirar um cochilo apoiado em algum lugar. Mas vá lá... eu era um chapéu de estima, minha presença era requisitada e ele nao chegava mesmo a me esquecer num banco ou num restaurante. Puxava-me pela mao e ia olhando as vitrines, as pernas, os gatos de rua. Mas em nenhum momento ocoria-lhe que podia ser interessante um momento entre ele e seu chapéu, nada mais. E assim, tomávamos sorvete, íamos as livrairas e cinemas, e ele sempre como se estivesse consigo mesmo ou só com o restante do mundo. Experimentei certa vez fazer um drama quando ele cansou-se de encarar o próprio chapéu muito tempo a sua frente num almoço de sábado e já percebia-se que ia pegá-lo e partir. Disse isso mesmo, que era como se eu fosse um chapéu, que ele nunca me olhava nos olhos ou prestava atençao em mim, que nunca perguntava o que eu queria fazer, apenas me colocava na cabeça e ia andando por aí. E ele riu! Satisfeita por conseguir provocar alguma reaçao, acabei esquecendo que estava brava, e ele disse que eu era uma gracinha de chapéu de abas curtas, pegou-me pela mao e fomos andando.

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