15 de dezembro de 2009

separação

-Vocês evoluíram juntas, se veem uma na outra, perderam a noção e onde começa e termina cada uma, são como que a mesma pessoa.

Olhamo-nos em silêncio. Era uma boa descrição.

-Ano que vem será uma experiência interessante, cada uma vai estudar um curso diferente, terão aulas diferentes, turmas diferentes... estou curioso.

Desesperamo-nos simultaneamente.

-Ai, que horrível!
-Horrível, horrível!!!
-Vamos entrar num acordo, escolher um curso que seja um meio termo!
-Hum... Algo entre psicologia e letras...
-Podemos escrever auto-ajuda!
-Que tal pedagogia?

O rapaz parecia se divertir às custas do nosso desespero.

-Talvez se a separação for mais redical, seja mais fácil.
-Ham?
-Eu vou pra Assis!
-Não!
-Não!
-E agora? Deus!

E todos aguardam, curiosos, o desenrolar da história e a diferenciação de uma pessoa em duas, o que terá de ocorrer invarivavelmente.

Um comentário:

  1. "Ou será que, sendo tão fraco de visão quanto tímido de espírito, ele sentia menos prazer com o reflexo do mundo sensível e brilhante através do prisma de uma linguagem multicolorida e ricamente lendária do que com a contemplação de um mundo interior de emoções individuais perfeitamente espelhadas em uma prosa periódica, lúcida e flexível?"

    Bia, aí vai o texto do Joyce.
    Creio que, de certa forma, ele explique uma diferenciação (não digo qual) literária entre nós três. Nós: Eu e você e L.D.

    Pensando bem, agora que leio seu relato, acho que L.P. não se divertia com o desespero de vocês. Bem possível a metempsicose (Proust ou quem sabe Joyce: Piglia), a transfiguração, a loucura: o desespero é meu: a mudança: a vida para além da letra.

    Talvez o caso de B.S. e L.D., seja o conto perfeito de duplo: o triplo do nada: a busca existencial: a intangibilidade do ler e do viver: Kafka!

    (Acho que eu viagei demais)

    Enfim, li seu diário quase numa tacada só
    ( faltaram ainda alguns textos) e adorei, muito mesmo. Você possui um novo leitor. Sinto-me lendo Kafka e Dostoiévski, com um adicional: um pão-de-queijo, um cafézinho, um gato: são o relato da angústia interior. (Um pouquinho de Roberto Arlt)

    Talvez o suposto "inconsiente" esteja em quixotismos em cafézinhos paulistanos. Não sei.

    É isso. Beijo
    L.P.

    ResponderExcluir