Fim de tarde. Em casa, meu irmão e a namorada na sala, meu pai dormindo no quarto, eu com o laptop na cozinha. Pedem-me para recomendar um filme. Eu recomendo Kikka, do Almodovar, dos meus filmes preferidos, que eu adquiri recentemente, maravilhoso, engraçado, genial. Ok, eles vão assistir Kikka.
Alguns minutos depois, ouço a voz do meu irmão:
-Bia, mas que merda de filme é esse que você recomendou pra gente?
Ouço gemidos, que provavelmente vinham do filme enquanto ele falava isso. Sim, o filme é consideravelmente pornográfico, mas tem toda uma trama inteligente, o fato é que eles ficam tensos pelo sexo explícito e não apreciam a beleza de tudo aquilo. Por que é que sexo incomoda tanta gente?
Algum tempo depois, passo pela sala para pegar o pendrive sobre a mesa, eles assistem o filme, ela com um olhar entediado, ele com uma expressão indignada.
-Não estão gostando mesmo? - pergunto, nem sei exatamente por que.
-Não - ela diz, sem desviar os olhos da tela, em que aparece no momento uma moça nua muito branca.
-Horrível! Horrível! Pornografia sem sentido, filme sem história, pesado, argh, por que você recomendou isso?? - meu irmão me acusa, olhando fixamente para mim, com as sombrancelhas franzidas, mas o que ele quer mesmo dizer é "como você consegue gostar de um filme tão pornográfico e não se sente infinitamente incomodada como eu? Por que você não se torna um pouco menos vulgar? Como você se atreve a encarar a pornografia sem constrangimento? Bia... por acaso você não é virgem???"
-Desculpe - disse eu, diante de todas as acusações de meu irmão, explícitas ou não.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário