-E aí, o que vocês fazem da vida?
L.D. tentou elaborar uma resposta, mas eu disse logo a verdade, na lata:
-Nada.
Ele riu. Cheirava a alcool.
-Adorei você! É a pessoa mais legal que já conheci na vida!
Meus olhos vagavam pelo ambiente cheio, ao som de choro e jazz, observando ora os casais de idosos que dançavam, ora o rapaz de cachinhos e óculos que era a cara do Louis Garrel, ora um outro rapaz de olhos muito verdes que às vezes lançava olhares para onde estávamos em pé L.D., eu e nosso novo admirador, um baixinho de meia idade, camisa desabotoada, segurando sua caipirinha. Ele logo nos fez um resumo de sua vida, na forma de tragédia grega, como costumam fazer os ébrios.
Fora investidor na bolsa, perdera tudo, a irmã morava na Suíça, o levara para lá, agora ele estava à salvo no primeiro mundo, mas sentia uma puta saudade do Brasil. Estava ali para o lançamento de seu livro, com prefácio do próprio Paulo Coelho (tive que evitar o olhar de L.D. quando ele disse isso), perguntou se eu já havia ido para fora do Brasil, respondi que sim, "ah, agora está falando a minha língua! Primeiro mundo é outra coisa!"
Fomos para o terraço, perto do nosso Louis Garrel, mas logo nosso admirador bêbado nos encontrou, ele declamou uns versos, disse que não há nada melhor que o presente, eu apontei uma janela aleatória num prédio como pretexto para L.D. e eu desatarmos a rir, e quando olhamos pra trás... ele não estava mais ali! Foi um sonho, L.D.?
Resolvemos entrar pois estava frio no terraço. Não havia onde sentar e nós nos apoiamos na parede e ficamos tomando sorvete e ouvindo música apenas. Eu olhava o Louis Garrel, que agora estava acompanhado por uma moça e um outro rapaz. "Chegaram Isabele e Mattew", comentei, fazendo uma alusão ao nosso filme de cabeceira, Os Sonhadores (ai, ai).
-Você tá meio Isabelle hoje - comentou L.D. Céus! Que elogio! Não achei palavras para retribuir e quando fui lançar mais um olhar ao trio, lá estava nosso amigo ébrio, parado ao nosso lado, com seus olhinhos brilhantes na minha direção, afinal, eu era a pessoa mais legal que ele já havia conhecido na vida.
Peguei L.D. pela mão e nós corremos pelas escadas estreitas, dois lances depois entramos num elevador, que se fechou em seguida e descemos juntamente à assensorista e a um casal de lésbicas, aliviadas por escaparmos da desagradável situação que é ter de segurar o riso o tempo todo, enquanto ouve uma pessoa que tem no livro de sua autoria um prefácio do nosso amigo Paulo Coelho.
O elevador parou no sexto andar. Estava parado um senhor barbado muito sério.
-Desce - disse a assensorista
Ele olhou pra cima, pra baixo, enfiou as mãos nos bolsos, jogou a cabeça pro lado e entrou. Olhou na direção minha e de L.D. e começou a murmurar frases ininteligíveis com os olhos esbugalhados.
Não deu mais. L.D. e eu tivemos um histérico ataque de risos ali mesmo, no elevador. Não adianta, meus senhores, o que é demais é demais, formalidade tem limite!
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