13 de fevereiro de 2010
saudade
Deitada, à mercê do ventilador, lendo Guy de Maupassant, no mais completo silêncio, interrompi minha atenção às desventuras de Jeanne e olhei para a janela, por onde entrava a luz das 3 da tarde dos dias de verão. Sentia saudade, mas como nunca experimentara antes, aquelas saudades doentias, terríveis, angustiantes, aquele desejo de aparecer versus o desejo de sumir, os ataques compulsivos de doces, as crises de choro histérico e depois a melancolia por dias... Nada disso. Talvez fosse a contaminação do bucolismo de Maupassant, dos sentimentos muito simples de Jeanne, mas acontece que a saudade que eu senti era simples e não me dava vontade de fazer nada, tampouco de demonstrar nada, era inocente... As despedidas dos primeiros dias, os olhares sem intenções, o prazer simples da companhia mútua, a conversa prolongada até bem tarde sobre qualquer coisa, sempre um novo assunto quando a despedida parecia inevitável, depois um tchau sem melodramas, nem sentimentos reprimidos, tudo à mostra com um sorriso confiante, as expectativas explicitas nos olhares durante a refeição, nenhum beijo, nenhum tipo de malícia no gesto de abraçar... Depois uma solidão tranquila e uma saudade tão boa... Tão boa que não dava nem vontade de matar.
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