-Se eu tivesse alguém por quem ficar, eu teria mais um motivo para ir embora.
G.H. já sabia que eu diria algo do tipo quando mencionou certo alguém.
-Do que estamos fugindo exatamente? - me pergunta ele, enquanto escolhe um CD para ouvirmos. Estamos sós, lá fora faz muito calor.
-Não digo que fugimos, digo que estamos procurando nós mesmos cada vez mais, somos muito intimistas - respondo, olhando pro teto branco do quarto - Está certo, acabamos fugindo do que está além de nós, da realidade, do mundo lá fora.
Ele escolheu Gardel. G.H. adora tangos. Senta-se na beirada da cama e pega minha mão.
-Realmente. Faz mais de 3o graus lá fora e aqui dentro suas mãos estão geladas.
Ele esfrega minhas mãos.
-Há tanto que explorar em nós dois, não precisamos sair, lá fora está calor e trânsito, aqui está fresco, tem comida e toca tango - digo, tirando minhas mãos das dele.
-A comida vai acabar, minha querida.
-Vamos comprar mais, sem traumas.
-O dinheiro vai acabar também.
Silêncio. G.H. as vezes é um bocado irritante.
-Mas não acabou, agora fique quieto, vamos ouvir o CD, depois podemos tomar sorvete ou deitar no chão gelado da cozinha, aqui dentro está começando a esquentar e isso me parece terrível.
-É inevitável - conclui G.H. e faz-se silêncio entre nós.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário