No telefone com V.S., enquanto espremo limões.
-Você tá estranha.
-Estou resfriada.
-Entendo...
Com o telefone preso entre o ouvido e o ombro, jogo as cascas no lixo e pego água e açucar na geladeira.
-Não vai mesmo me dizer o que tá acontecendo?
Coloco água gelada na limonada e desligo o fogo onde apita a chaleira.
-Não.
V.S. fica em silêncio, e apesar de estar incômoda a posição necessária para falar ao telefone, fazer limonada e esquentar o chá simultaneamente, eu não sentia a menor vontade de desligar e encarar o silêncio acusador dos utensílios de cozinha.
-Devia falar sobre isso com alguém, se não vai explodir.
Parei um pouco e levantei o olhar. Sobre a mesa da cozinha jazia um vaso de vidro com cravos vermelhos, combinando com a toalha na qual minha mãe me proibira de servir qualquer tipo de comes e bebes e que, no momento, se encontrava repleta de migalhas de pão. Tentei suspirar, mas meu nariz estava entupido, então simplesmente funguei e disse:
-Queixo-me às rosas - e voltei minha atenção para o açucareiro. Já contava a quarta colherinha despejada no suco quando V.S. me respondeu exatamente o que eu achei que ele fosse dizer:
-Faz muito bem, pois as rosas não falam.
-Exato!
Depois usei a limonada e o chá como pretexto para desligar e, antes de voltar-me a eles, troquei a água do vaso dos cravos vermelhos.
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